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Uma breve meditação

  • bozumiiiiii
  • 28 de jan.
  • 4 min de leitura
Veni Sancte Spiritus
"In labore requies, in aestu temperies, in fletu solatium."

Este verso, oriundo da canção e oração Veni Sancte Spiritus, entoada após o Veni Creator no período pós-Pentecostes, exalta de maneira sublime a ação do Espírito Santo nas almas dos fiéis. Toda a oração invoca o Espírito, pedindo por Seus dons e relatando Suas graças. O texto escolhido para análise aborda uma questão fundamental na existência humana: o vazio existencial. Conforme exposto por Santo Agostinho, no homem reside um vazio imenso, que somente Deus pode preencher. Este espaço interior, que permeia a alma humana, é verdadeiramente incomensurável. A mancha do pecado original, penetrante e abrangente, atinge as raízes mais profundas do ser, deixando uma marca espiritual, metafísica e substancial. Somente um Ser divino é capaz de preencher este vazio, curar as feridas e estancar o sangramento da alma. Esse Ser é Deus. "In labore requies", isto é, "no labor, descanso", representa o verdadeiro lar do homem. Como observou Santa Teresa d'Ávila, a Santíssima Trindade habita no íntimo da nossa alma, no cerne do nosso ser. Assim, o Espírito Santo nos impulsiona à conversão, mesmo antes do batismo, pois a própria vontade de se batizar é uma ação d'Ele. Deus nos acolhe em Seu lar, alivia o peso da nossa cruz, e, à semelhança de Simão de Cirene, o Espírito Santo nos assiste na caminhada até o Calvário. Quando a cruz se torna insuportável, através das orações, Ele vem e nos conforta. O homem é escravo do homem, sujeito ao pecado e guiado pelas más ações. Matamos Cristo pela nossa iniquidade. Nossa maldade eivou o nosso conhecimento intuitivo, transformando o homem, feito para o céu, em uma besta predatória que deseja o inferno. Colocar o homem como motor de reparação do mal, tornando-se autor e não mero instrumento de Deus, reduz a ação da Trindade, transmutando a fé teocêntrica em antropocêntrica. O homem que matou Cristo não pode ressuscitá-Lo, pois Ele vive e reina por seu próprio e digníssimo poder. Por isso, o peso da cruz não é um fardo para o Deus Vivo, que carregou o peso da humanidade em Sua cruz sem se queixar. Nós, seres frágeis e incapazes, reclamamos do peso da nossa pequena cruz, pois não temos forças para suportá-la. Dependemos das forças divinas concedidas pelo Espírito Santo. Ele é descanso e paz, pois "in labore requies"!


"No calor, ele é brisa." O calor, neste contexto, pode ser interpretado como as angústias que incendeiam nossa alma: a raiva acumulada, a dor e a mágoa de um coração ferido. Muitas vezes, odiamos o que Deus criou e o que nos é dado para testar nossa fé. Estamos desalinhados com a Santa Vontade e, portanto, rejeitamos o que é adverso, não compreendendo que os desafios provêm de Deus. Mais vale sofrer com alegria, sorrir na tristeza, embora nos falte capacidade para tal. É o Espírito Santo quem nos concede felicidade em meio à dor, agindo como a brisa suave que alivia os campos inflamados de nossas almas. Ele é o conforto, a graça e a paz para o ser machucado. Em Sua infinita bondade e dons sagrados, Ele nos oferece água no deserto, abrigo nas tempestades e alívio no calor, exigindo apenas que O amemos de todo o coração. Também é exigido que amemos tudo que vem d'Ele, pois, se Ele é bom, como poderíamos odiar Sua criação? O Espírito Santo nos recorda que Deus Pai é bom, amoroso e justo, e, consequentemente, Seu mundo também o é. Como disse Santa Teresinha: "Tudo é graça!"


Se tudo é graça, não há calor que não possa ser aliviado, não há frio que não possa ser aquecido e, acima de tudo, não há sofrimento que não possa ser redimido. Pois, "in fletu solatium", ou seja, "no pranto, consolo". Mais do que uma brisa que refresca, o Espírito Santo é um Senhor que conforta com Seu toque de amor. Amor infinito, como expressado pela Venerável Madre Margarida La Touche. Deus Pai deseja derramar Seu amor, sendo um oceano infinito que anseia se esvaziar no homem, esse pequeno poço vazio e árido. Como mencionado por um colega: "[...] se quisermos ser santos como Cristo, devemos aceitar a cruz. Os cristãos devem reconhecer que Satanás é o príncipe deste mundo, e, por isso, estamos no mundo, mas não somos do mundo; estamos apenas de passagem neste vale de lágrimas. Após o sacrifício de Jesus Cristo, o sofrimento adquiriu um novo significado. Deixou de ser apenas um castigo divino para se tornar um meio de redenção e ocasião de exaltação. Os santos devem renunciar à carne, sendo louváveis por isso. Além disso, dor e amor se tornaram equivalentes, pois quanto maior foi o sofrimento de Cristo, maior foi Seu amor por nós [...]." Amar é sofrer, e, como disse a digníssima Santa Gemma, "Il soffrire insegna ad amare" (o sofrimento ensina a amar). Nessa dor, devemos amar mais do que nunca, aceitar as graças do Espírito Santo com maior fervor. E no meio da dor, Cristo é o consolo enviado através do Espírito Santo. Ele, em Seu Amor Infinito, nos ama, consola e assiste até o Calvário. Amemos a cruz, amemos a dor, mas amemos por Cristo. Que nosso espírito nunca ouça o "Quo Vadis?" que São Pedro escutou. Que Jesus não precise morrer novamente para que possamos amá-Lo, pois, enquanto não abandonamos o mundo uma única vez, Cristo morreria quantas vezes fosse necessário para nossa salvação. Deus é amor, justiça, misericórdia e consolo. A supracitada Madre Margarida, em suas visões místicas, ouviu de Cristo: "A tua miséria me atrai, pois eu sou a misericórdia; a tua fraqueza me acorrenta, pois eu sou o Onipotente; tuas falhas me chamam, pois eu sou o puro e me ofereci por ti."


Que possamos enfrentar as dores e obstáculos com a assistência do Espírito Santo, por Cristo, com Cristo e em Cristo. Assim seja.

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