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São Bernardo de Claraval, o doutor do amor

  • bozumiiiiii
  • 20 de ago. de 2024
  • 5 min de leitura
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Biografia


São Bernardo de Claraval (1090-1153) foi uma das figuras mais influentes da Idade Média, reformador da Ordem Cisterciense e místico que desempenhou um papel central na revitalização do monaquismo e na espiritualidade cristã.


Nascido em 1090, em Fontaines-lès-Dijon, na França, Bernardo era o terceiro de sete filhos de uma família nobre. Aos 22 anos, ingressou no mosteiro cisterciense de Cîteaux, fundado em 1098, atraído pelo estilo de vida austero e contemplativo que a ordem promovia. Ele influenciou trinta de seus familiares e amigos a se juntarem a ele, incluindo seus cinco irmãos e seu tio.


Em 1115, São Bernardo foi enviado para fundar uma nova comunidade cisterciense em Claraval (Clairvaux). Sob sua liderança, o mosteiro tornou-se um dos mais importantes centros de espiritualidade e reforma monástica da Europa. Ele destacou-se por sua vida de oração, penitência e zelo pastoral. Seu carisma atraiu muitos jovens à vida religiosa, e Claraval rapidamente se expandiu, fundando dezenas de mosteiros.


São Bernardo teve uma grande influência não apenas na Igreja, mas também na política europeia. Ele desempenhou um papel importante em eventos como o Cisma de 1130, quando apoiou o Papa Inocêncio II contra o antipapa Anacleto II. Além disso, pregou a Segunda Cruzada (1146-1149), convocada pelo Papa Eugênio III, que fora seu discípulo em Claraval. Embora a cruzada tenha fracassado militarmente, a reputação de Bernardo como um pregador carismático cresceu.


Teologicamente, São Bernardo é conhecido por sua profunda devoção à Virgem Maria e sua mística teologia do amor. Ele escreveu sermões, tratados teológicos e cartas que enfatizam o papel central do amor na relação entre Deus e o homem. Um de seus escritos mais famosos é o "Tratado do Amor de Deus" (*De diligendo Deo*), no qual ele explora a natureza do amor divino e a progressão espiritual do ser humano.


Bernardo também combateu a heresia, notadamente a dos cátaros, e defendeu a fé católica contra os erros de sua época. Ele envolveu-se em controvérsias teológicas, como a que teve com Pedro Abelardo, filósofo que promovia uma visão racionalista da fé. São Bernardo criticava as abordagens que ele considerava excessivamente intelectuais, sustentando que o conhecimento de Deus deveria ser buscado principalmente pela oração e contemplação, e não apenas pela razão.


São Bernardo de Claraval morreu em 20 de agosto de 1153, aos 63 anos. Foi canonizado em 1174 pelo Papa Alexandre III e declarado Doutor da Igreja em 1830 pelo Papa Pio VIII. Seu legado perdura como um exemplo de santidade, sabedoria espiritual e zelo pela Igreja.


Obra teológica


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São Bernardo de Claraval foi uma das mentes teológicas mais influentes de sua época, sintetizando a espiritualidade monástica com a mística cristã, fundamentada no amor divino. Seu trabalho teológico é marcado pela profundidade espiritual, clareza doutrinária e uma insistência na centralidade do amor a Deus como meio de união com Ele.


Teologia do Amor


O cerne da teologia de São Bernardo está em seu conceito de amor. Para ele, o amor é o caminho primordial de aproximação entre a criatura e o Criador. Ele acreditava que o verdadeiro conhecimento de Deus não vem apenas pela razão, mas pela experiência direta do amor divino. Sua teologia está profundamente enraizada no misticismo, vendo o amor a Deus como um processo de transformação espiritual que culmina na união com Ele.


São Bernardo descreveu quatro graus de amor em sua obra "De diligendo Deo" (Tratado sobre o Amor de Deus):

1. Amor carnal: O homem ama a si mesmo por causa de suas próprias necessidades.

2. Amor de Deus por interesse: O homem ama a Deus, mas apenas pelo que Ele pode oferecer.

3. Amor puro de Deus: O homem ama a Deus pelo que Ele é, e não apenas pelo que pode receber.

4. Amor de si mesmo em Deus: O homem ama a si mesmo em Deus, alcançando a perfeita união com Ele.


Essa progressão do amor foi essencial em sua teologia mística, levando o homem da autossatisfação para a união total com Deus, transcendendo o egoísmo.


Principais Obras


1. "De diligendo Deo" (Sobre o Amor de Deus):

Nesta obra, São Bernardo discute a natureza do amor e sua progressão espiritual. Ele argumenta que o amor a Deus é a essência da vida cristã e que o objetivo final é amar a Deus desinteressadamente. Esta obra é fundamental para entender sua visão mística e espiritualidade.


2. "De gratia et libero arbitrio" (Sobre a Graça e o Livre Arbítrio):

Este tratado aborda a relação entre a graça divina e a liberdade humana. Bernardo enfatiza a importância da graça na salvação, mas também sustenta que o livre arbítrio humano é essencial na resposta à graça de Deus.


3. "De consideratione" (Sobre a Consideração):

Escrito como uma carta ao Papa Eugênio III, antigo discípulo de São Bernardo, este livro oferece uma reflexão profunda sobre o papel do Papa e a vida espiritual. Ele critica a excessiva preocupação com os assuntos temporais da Igreja e exorta Eugênio a focar na contemplação e na vida interior.


4. "Sermões sobre o Cântico dos Cânticos":

Esta é uma coleção de sermões exegéticos sobre o Cântico dos Cânticos, interpretado de maneira alegórica como uma representação do amor entre Cristo (o Esposo) e a alma (a Esposa). Esses sermões revelam a mística nupcial de Bernardo e sua visão do relacionamento íntimo entre Deus e a alma.


5. "Apologia a Guilherme de Saint-Thierry":

Nesta obra, São Bernardo defende os cistercienses contra as críticas de Pedro, o Venerável, abade de Cluny. É uma peça importante no debate monástico do século XII, contrastando o rigor cisterciense com o estilo mais relaxado de Cluny.


6. "Vida de São Malaquias":

São Bernardo escreveu uma biografia de São Malaquias, bispo irlandês, com quem tinha uma profunda amizade. A obra destaca a santidade de Malaquias e a estima de Bernardo pela simplicidade e zelo pastoral.


7. "Cartas e Sermões":

São Bernardo escreveu centenas de cartas e sermões, muitos deles destinados a figuras proeminentes de sua época, incluindo reis, papas, monges e abades. Esses escritos abrangem uma ampla gama de temas, desde questões políticas e eclesiásticas até instruções espirituais e pastorais.


Influência Teológica


A teologia de São Bernardo teve um impacto profundo na espiritualidade cristã medieval. Ele foi um dos principais promotores do culto à Virgem Maria, destacando sua intercessão poderosa e seu papel central na salvação. Além disso, Bernardo influenciou místicos subsequentes, como São João da Cruz e Santa Teresa d'Ávila, com sua ênfase no amor místico e na experiência direta de Deus.


Ele também contribuiu significativamente para a teologia cisterciense, defendendo uma espiritualidade de simplicidade, pobreza e oração contemplativa. São Bernardo foi um crítico do racionalismo puro, sustentando que o conhecimento teológico sem amor é estéril e que o verdadeiro conhecimento de Deus só pode ser alcançado pela contemplação e pela transformação interior.


Assim, seu legado teológico e espiritual continua a influenciar tanto o pensamento monástico quanto a teologia mística, sendo reconhecido como um dos maiores Doutores da Igreja.

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