A Tradição da Abstinência: Por Que Não Comemos Carne nas Sextas-Feiras?
- bozumiiiiii
- 2 de ago. de 2024
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A Tradição da Abstinência: Por Que Não Comemos Carne nas Sextas-Feiras?
No vasto horizonte das práticas espirituais da Igreja Católica, a abstinência de carne nas sextas-feiras destaca-se como uma tradição antiga e profundamente simbólica. Esta prática, frequentemente mal compreendida, carrega consigo um peso espiritual significativo que remonta aos primeiros séculos do Cristianismo.
Raízes Bíblicas e Históricas
A origem da abstinência de carne nas sextas-feiras está firmemente enraizada na memória da Paixão de Cristo. Sexta-feira é o dia em que os cristãos recordam a crucificação de Jesus, o ato supremo de sacrifício e redenção. Desde os primeiros tempos, a Igreja incentivou os fiéis a marcarem este dia com práticas de penitência e sacrifício, como forma de unir-se ao sofrimento de Cristo.
Simbolismo da Carne
Mas por que a carne especificamente? Na tradição judaico-cristã, a carne sempre foi vista como um alimento luxuoso e festivo. A escolha de abster-se dela é, portanto, um pequeno sacrifício, uma forma de renúncia às delícias mundanas em prol de um maior bem espiritual. Além disso, a carne, especialmente a carne vermelha, era tradicionalmente associada a banquetes e celebrações, o que contrasta com o espírito de penitência que a sexta-feira exige.
Evolução da Prática

Ao longo dos séculos, esta prática foi mantida e adaptada. Durante a Idade Média, a abstinência era rigorosamente observada, não apenas às sextas-feiras, mas também em outras ocasiões e períodos do calendário litúrgico. No Concílio Vaticano II, houve uma flexibilização das regras, permitindo que as Conferências Episcopais adaptassem as práticas de acordo com as realidades locais. Hoje, a abstinência de carne nas sextas-feiras da Quaresma permanece obrigatória, enquanto nas outras sextas-feiras, os fiéis são incentivados a realizar algum ato de penitência ou caridade.
Um Chamado à Reflexão e Conversão
A abstinência de carne nas sextas-feiras não é uma mera regra dietética, mas um convite à reflexão e à conversão. É um lembrete semanal da nossa fé, da nossa ligação com o sacrifício de Cristo e da nossa chamada à santidade. Ao renunciar a um prazer cotidiano, abrimo-nos à possibilidade de um encontro mais profundo com Deus e à prática do amor ao próximo.
O estranho caso das capivaras

Como foi dito, há muitos séculos a Igreja Católica estabeleceu que o consumo de certos tipos de carne durante a quaresma estaria proibido para os fiéis. O jejum seria uma referência aos 40 dias que Jesus passou no deserto sem comer — período entre a Quarta-feira de Cinzas e a Páscoa. Por conta desta proibição, muitos católicos substituem a carne vermelha por outros tipos de carne, principalmente o peixe.
E foi olhando para essa possibilidade que religiosos na Venezuela escreveram ao Vaticano para perguntar se era possível comer uma estranha criatura, muito comum no Novo Continente. Os líderes religiosos informaram que, embora grande, o animal era encontrado com frequência na água, o que poderia indicar que se tratava de um peixe.
Em 1784, o Vaticano acatou o pedido. Desde então, capivaras foram consideradas peixes pela Igreja Católica e comer a sua carne não é considerado pecado. Atualmente, a regra continua valendo — e inclui outros animais, como o castor —, embora o jejum estimulado pela Igreja não seja tão restritivo.
Conclusão
Em suma, a abstinência de carne nas sextas-feiras é uma tradição rica de significado espiritual, que nos convida a uma vida de sacrifício, reflexão e comunhão com o mistério da Paixão de Cristo. Que possamos, através dessa prática, crescer em nossa fé e em nossa dedicação ao serviço do Reino de Deus.
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